quarta-feira, 14 de maio de 2014

REFLEXÃO E FILOSOFIA

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1985.

      Quando se há um problema é necessário refletir sobre. Não existe questionamento sem reflexão, sem a busca do fundamento. E eis que ai está a filosofia. Reflexão significa ‘’voltar atrás’’. O que neste caso não é necessariamente voltar ao passado. É o ato de repensar, revisar, analisar, ir a fundo. E a partir daí que é possível questionar, ou, concordar.
      Imagina-se um questionamento sobre todos os ditados populares que se usa, e muitas das vezes não há uma compreensão de imediato? Todas as crenças, como por exemplo ‘’Não deixe o chinelo virado’’(superstição) ou ‘’Não corte o cabelo em lua cheia!’’ que muitas vezes pessoas seguem, sem saber o fundamento. O ato de questionar-se, refletir, dos problemas mais complexos aos casos mais simples, este é o filosofar.
      A palavra “reflexão” vem do latim, e significa “voltar atrás”, ou seja, um segundo pensamento. Toda reflexão é um pensamento, mas nem todo pensamento é uma reflexão. A reflexão é um pensamento capaz de analisar, pode-se também embasar opiniões, interrogar etc. Refletir é retomar, reconsiderar, é analisar com cuidado, prestar atenção e isto é filosofar.
      A filosofia é uma reflexão sobre os problemas da realidade, mas ela não é qualquer tipo de reflexão. Para que uma reflexão seja chamada de filosófica, ela tem de obedecer três requisitos: precisa-se ser radical, rigorosa e de conjunto.
      A reflexão radical ocorre quando uma questão ou problema é analisado com profundidade, de acordo com suas raízes.
Um exemplo que podemos citar dos dias atuais, é em relação às manifestações. O governo tenta calar a boca do povo, mas não procura fazer uma análise mais profunda do fundamento e das causas de suas reivindicações. Dessa forma, o problema é “abafado”, mas não tem uma resolução definitiva.
      A reflexão filosófica rigorosa, nada mais é do que uma apuração certeira, tendo grande vigor e profundidade, tendo suas raízes, bases e fundamentos precisamente, na realidade.
Deve-se mostrar com grande rigor, com cautela e boa averiguação, sempre com base na ciência e também na sabedoria popular, a conhecida “voz do povo”, nos campos do problema em questão.
      Um depende do outro, sempre terão que estar andando juntos, para um melhor aproveitamento da causa. Havendo métodos sem erro, para garantir uma resposta solucionada à sociedade.
Exemplos nos dias atuais:
O Jure Popular.
      Nessa modalidade de julgamento, que pessoas são escolhidas para ajudar na absorção ou condenação do réu e, também representar a sabedoria popular com provas reais e válidas. Mesmo tendo os argumentos dos advogados e provas jurídicas precisas, é indispensável á opinião pública. Nesse fato é que ocorre a reflexão rigorosa, pois ela possui base na ciência e na população. O último requisito a ser feito, para que uma reflexão possa se tornar filosófica, é a de conjunto.
      O problema(o que a realidade apresenta, uma “questão para ser solucionada”) a ser analisado, deve ser observado de modo global (“que se considera como um todo”).
      Relacionando-se assim, com outros aspectos além do seu próprio. O campo de ação é o problema mesmo não sabendo onde ele está.
      A filosofia se difere da ciência nesse aspecto, ela não foca em um único objeto, mas procura um objeto problemático. A ciência não consegue refletir ou buscar um problema, ela apenas o analisa e pode até solucioná-lo.
      A filosofia sempre está procurando uma verdade, buscando um problema e resolvendo o mesmo. Observando-o não de modo parcial, por mais que as vezes o analisem em cima de apenas um ponto de vista.
      A filosofia analisa seu objeto de estudo em seu próprio meio e fora dele, entra em um contexto e examina a função do conjunto.
      Para concluir, pode-se acrescentar o seguinte pensamento: “mas o que é filosofar hoje em dia – quero dizer, a atividade filosófica – senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? Se não consiste em tentar saber de que maneira e até onde seria possível pensar diferentemente em vez de legitimar a que já se sabe?” (Michel Foucault/ 1926-1984). Ou seja, é necessário sim, questionar, e ir mais a fundo, questionar, e ir atrás da sua verdade, ir atrás do que se é certo.

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