quinta-feira, 29 de maio de 2014

ANALISE DO CONTO: FITA VERDE NO CABELO

      Neste trabalho é feita uma análise do texto A Fita Verde no Cabelo de João Guimarães Rosa, através de uma linha de pensamento que buscou desenvolver a os principais temas de entendimento do grupo, como: a inocência da menina, a relação de intertextualidade, as escolhas da menina, a fita verde, a transição para a adolescência, o enfrentamento do medo e da solidão, o espaço físico e psicológico da aldeia onde a menina vivia, o conhecimento da dor e a possível representação das framboesas, tentando assim esclarecer também alguns simbolismos presentes no conto, e um confronto entre o conto e a estória.
      O gênero textual, do texto analisado, trata-se de uma narração, pois conta-se um fato, ficticio ou não. Quanto ao tempo verbal, na narração, é predominante o passado.
      O genêro textual que foi analisado é um conto, uma narrativa que é curta, que trata situações corriqueiras, anedotas e até folclores.
      Fita verde no cabelo contém uma relação de intertextualidade com o clássico Chapeuzinho Vermelho. Clássico sim, pois, é uma estória infantil, que é muito conhecida, e abrange uma riqueza de informações que o leitor vai adquirindo conforme lê. Chapeuzinho Vermelho mostra os problemas que encontrou pelo caminho através do lobo mau, em um pensamento e um olhar infantil.
       Na estória de Chapeuzinho Vermelho, a menina sai da casa de sua mãe e passa por um bosque para chegar até seu destino visitar a avó. Mas o que diferencia Chapeuzinho Vermelho e Fita Verde no Cabelo é que neste conto, não há lobo, há uma ausência da capa vermelha, e também não há um final feliz, talvez o conto pode-se ser considerado mais realista que o clássico.
      A menina com fita verde no cabelo sai da casa de sua mãe, para levar doce na casa de sua avó, e no caminho perde a sua fita verde. E ai, a estória se desenrola de uma maneira bem diferente de Chapeuzinho Vermelho.
      O conto analisado narra a estória de uma menina com uma fita verde no cabelo. De acordo com a análise feita, pode-se ver o simbolismo que essa fita remete no conto. A fita de cor verde (significa esperança) pode ser a representação da imaturidade da menina.
      Fita-verde é como Guimarães Rosa se refere à menina no decorrer da narrativa, que vive em uma aldeia, onde é possível notar uma certa conformidade de seus habitantes com a vida que é levada por lá, já que todos desempenham sua função com muito juízo, menos a menina, que tem autonomia para fazer suas próprias escolhas. Essa conformidade é representada através do neologismo, que o autor usa demasiadamente no conto.
      O enredo da estória começa a se desenvolver, no momento em que a mãe da menina pede que a mesma vá até a casa de sua avó em uma aldeia semelhante a que viviam, com um pote de doce em calda e uma cesta vazia para a colheita de framboesas ao longo do caminho pelo bosque em que teria de passar.
      Conforme descrito no conto, fita-verde sai linda de sua aldeia em direção ao bosque que levará a casa de sua avó. No caminho pelo bosque, a menina não via lobos, apenas os lenhadores que “lenhavam”. Em certo momento, a menina decidiu optar por um caminho mais distante e assim foi se divertindo com as avelãs no chão, as borboletas que voavam e estavam fora de seu alcance.
      Nesse momento do conto, pode-se ver que a menina é obrigada a aprender a lidar com as consequências de suas escolhas, já que ao ter optado pelo caminho mais longo ela perdeu um tempo em que poderia estar ao lado de sua avó e também sua fita verde, que como falado anteriormente, pode ser considerada como a representação de sua imaturidade. A menina chega à casa de sua avó e a encontra a beira da morte, reafirmando a grave consequência da sua escolha ao ter prolongado o caminho. A partir daí a menina é obrigada a enfrentar a perda de uma pessoa querida e a lidar com a falta do carinho, beijo e abraço de sua avó, conforme visto no seguinte trecho do conto:
- Vovozinha, que braços tão magros os seus, e que mãos tão trementes!
- É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta... – a avó murmurou.
- Vovozinha, mas que lábios tão arrocheados!
- É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta... - a avó suspirou.
- Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado e pálido?
- É porque já não te estou vendo, nunca mais, minha netinha... – avó ainda gemeu. (GUIMARÃES, 1964)
Sendo assim, acontece uma transição da menina para a adolescência onde agora, ela precisa enfrentar os problemas e lidar sozinha com os seus medos como foi descrito no final do conto:
- Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!
Mas a avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo". (GUIMARÃES, 1964)
      Diante da analise feita, pode-se concluir que, um dos fatores analisados é o livre arbítrio. Ele acontece quando é possível escolher e com isso deve-se pensar duas vezes antes de resolver algo, seguir algo, ou até mesmo, falar algo. No caso, o conto falou de caminhos a serem seguidos, e suas consequências e antes de segui-las tem-se de pensar em todas as possibilidades para assim seguir no melhor caminho.
          Outro fator que foi analisado é referente a problemas enfrentados ao decorrer da vida. A partir dos problemas, há uma aprendizagem no viver de cada ser humano. Não há problema sem solução e isso também é algo que faz com que o ser humano reflita. Com isso, há um crescimento não físico, mas mental, psicológico. Por estes e outros parâmetros, afirma-se que tudo citado e analisado envolve-se no dia-a-dia do homem. Melhorar e crescer, só se chega nesses dois pontos, vivendo. Não apenas um simples respirar, mas o enfrentamento de cada dia, decisões tomadas, escolhas feitas, atitudes, palavras. Quando o homem se torna um ser social, ele se vê contra todos esses aspectos a serem enfrentados, sendo assim, ao resolvê-los, ele amadurece.



quarta-feira, 28 de maio de 2014

PIBID



       O pibid é um programa realizado pela uniabeu, que conta com alunos de pedagogia, letras (literatura/inglês) e história. São 16 alunos de cada curso, que passam por entrevista e uma seleção, assim, tendo seus respectivos colégios e professores para orientá-los. Na foto acima, temos o primeiro contato do pessoa de Letras (português) com os alunos do colégio CIEP 112 - JORACYR CAMARGO. É um projeto maravilhoso, que contará com oficinas de grafitagens, abordando os gêneros textuais. Uma ótima oportunidade de conhecimento para todos (alunos,professores,coordenadores).

terça-feira, 27 de maio de 2014

GREVES E MAIS GREVES!!!

Segundo a decisão, docentes têm que voltar ao trabalho nesta quarta (28).
Sindicato será multado em R$ 300 mil diários caso não acate.
 Os funcionários da rede estadual de ensino que estão em greve terão que voltar ao trabalho nesta quarta-feira (27), segundo a presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Leila Mariano. A desembargadora considerou que a paralisação é ilegal. Segundo a deliberação, se os funcionários não retomarem as atividades serão considerados faltosos e o sindicato responsável pela categoria receberá multa de R$ 300 mil por dia.
No documento que decretou a ilegalidade da greve, a desembargadora escreveu que o Sindicato dos Profissionais da Educação (Sepe) demonstrou desinteresse nas negociações e que, segundo o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), não foi apresentada intenção em resolver os pactos firmados anteriormente.

“Importante registrar que, na referida audiência realizada no dia 13 de maio, o Estado do Rio de Janeiro, em respeito aos professores e aos alunos da rede pública estadual, concordou com a manutenção dos grupos de trabalho e fóruns de debate para o aprimoramento dos temas previstos no acordo”, afirmou Leila Mariano.

A decisão da magistrada também possibilitou ao Estado a decisão de cortar o ponto e descontar o salário dos grevistas. A paralisação acontece desde o dia 12 de maio entre os servidores das redes municipais e estaduais.

De acordo com a coordenadora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), Marta Moraes,  haverá uma reunião da direção com o jurídico do sindicato para que eles entendam o que representa a decisão da desembargadora Leila Mariano, presidente do TJ-RJ, pela ilegalidade do movimento grevista. A coordenadora também afirmou que não será por conta de uma multa que a greve será suspensa. Para ela, somente a categoria, em assembleia, pode decidir pela continuidade ou pela suspensão do movimento.
Acordos 
Segundo o Sepe-RJ,  os governos estadual e municipal não cumpriram compromissos firmados junto ao STF, em outubro de 2013, como a implementação da Lei Federal do 1/3 da carga horária para planejamento fora da sala de aula, instituída para todos os professores pela lei que criou o piso da Educação Nacional.
As reivindicações conjuntas - para estado e município - englobam: plano de carreira unificado, reajuste linear de 20% com paridade para os aposentados, autonomia pedagógica, 30 horas para os funcionários administrativos, eleição direta para diretores, equiparação salarial da categoria, reconhecimento do cargo de cozinheira  e 15% de reajuste entre níveis.
Segundo informações da Secretaria estadual de Educação (Seeduc), as reivindicações não podem ser as mesmas para estado e município. Quanto à demanda de equiparação salarial dos professores, a Seeduc informa que a rede estadual do Rio paga, atualmente, R$ 16,90 pela hora-aula. Valor maior do que a hora-aula em São Paulo (R$ 15,80), no Espírito Santo (R$ 9,80) e em Minas Gerais (R$ 11,80).

A Secretaria diz que também os novos servidores têm ainda auxílio-transporte (entre R$ 63 a R$ 120/mês), auxílio-qualificação (bônus anual de R$ 500), auxílio-alimentação (R$ 160 mensais) e auxílio-formação para professores regentes de turma em  parceria consórcio Cederj (R$ 300 mensais).

sábado, 24 de maio de 2014

MAIS TEMPO NA ESCOLA, MAS PRA QUÊ?

Ampliar o período que a criança passa na escola não garante o aumento das oportunidades de aprendizado nem a melhoria da qualidade do ensino. Para um resultado positivo, as novas atividades precisam ter conexão com o projeto pedagógico da escola e devem ser oferecidas por profissionais afinados com os objetivos da instituição.

O Brasil possui experiências variadas nessa área e até mesmo por isso o assunto tem gerado muita discussão nas esferas governamentais e entre pesquisadores. Em outubro de 2011, o Ministério da Educação (MEC) reuniu representantes de entidades como a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) para discutir a ampliação da jornada escolar. O encontro resultou em uma proposta, a ser encaminhada ao Congresso Nacional, com a meta de em cinco anos ampliar a duração da carga diária de aulas de quatro para cinco horas, em dez anos, para seis, e em 15 anos, para sete. Paralelamente, o Plano Nacional de Educação (PNE) propõe que 50% das instituições públicas de Educação Básica ampliem sua jornada até 2020.

A questão não é nada nova. Figuras célebres como Anísio Teixeira (1900-1971) e Darcy Ribeiro (1922-1997) criaram escolas com tempo estendido e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, determina que deve ser "progressivamente ampliado o período de permanência na escola".

Para agregar as iniciativas de aumento do horário existentes no país e estimular a implantação delas em novas escolas, o MEC criou em 2007 o programa Mais Educação. Participam dele 15 mil escolas, que oferecem atividades optativas no período extra e já demandaram 1 bilhão de reais em investimentos. As realidades encontradas nessas instituições são bem diversas, com alguns aspectos positivos e outros preocupantes.

A pesquisa Educação Integral/Educação Integrada e(m)Tempo Integral: Concepções e Práticas na Educação Brasileira, publicada em 2009 pelo MEC e várias universidades, concluiu que em 65% dos casos estudados os esportes são contemplados nas horas acrescidas ao dia letivo. As aulas de reforço, que podem melhorar o desempenho do estudante e oferecer momentos de aprendizado individualizado, são realizadas em 61,7% das escolas. Com um percentual menor vêm as de Arte e de Informática, entre outras.

A ampliação de quatro para cinco horas é relativamente simples, pois permite dois turnos diurnos. Mas, com horários maiores, a situação complica e aumenta a necessidade de investimentos para mais salas de aulas (e mais escolas), infraestrutura e contratações.

Nos casos em que não há estrutura disponível, as atividades são realizadas em instalações de instituições parceiras. No artigo Escolas de Tempo Integral Versus Alunos em Tempo Integral, Ana Maria Cavaliere, doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra que problemas graves surgem quando isso ocorre. O risco é que a criança passe a receber um atendimento meramente assistencialista, fora do projeto pedagógico da escola e às vezes fornecido por quem não possui formação para lecionar. Algumas experiências analisadas por ela (ligadas ou não ao Mais Educação) empobreceram a rotina e geraram a saída de alunos.

3,47  É a média de horas diárias que estudantes de 4 a 17 anos ficam na escola no Brasil.

FONTE: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/mais-tempo-escola-679008.shtml

sexta-feira, 23 de maio de 2014

FEMATEC - UNIABEU CENTRO UNIVERSITÁRIO

      No dia 22/05, aconteceu a 1ª Feira de Matemática e Cultura, a FEMATEC. e Teve a finalidade de apresentar personalidades no decorrer do tempo que influenciaram a educação. Mesmo que a maioria não fosse educador.

CURSO: MÁTEMATICA


Coordenador: Prof. Nelson D. Gomes
Orientadora: Profª Sineide G. da Silva


quinta-feira, 22 de maio de 2014

X Encontro de Educadores

      A palestra com tema “Literaturas contemporâneas e marginal: vozes e direitos”, ministrada pelo professor doutor Anderson Xavier, tratou dos conceitos acima .
De acordo com o que foi falado, contemporâneo dentro da literatura não trata-se apenas do que é da atualidade e sim o que pode-se  trazer para a atualidade de tempos antigos.
      A literatura marginal, é taxada pelo poder econômico e geográfico e é feita por minorias, sejam raciais ou socioeconômicas. Os livros são lançados fora dos grandes centros. O marginal é o que está a margem.

A partir de então, entrou-se no assunto de alta cultura que segundo exemplificado na palestra, aqui no Brasil, está totalmente ligado a alta costura, ou seja, aquilo que é caro.

terça-feira, 20 de maio de 2014

O sistema de educação a distancia tem criado polemicas ao seu redor . Atualmente a educação está nas redes e também em livros, não existe mais  motivos para ignora-la . Temos que nos esforçar para conseguir vaga em  faculdades e cursos? Sim, nada é de “mão beijada”, assim como a educação a  distancia não é a mais fácil ou difícil. É necessário esforço e aplicação para um melhor resultado. Agora saiba mais sobre o ensino a distância com a matéria do site da secretaria de ciência e tecnologia.

“Idealizado como um sistema que oferece a oportunidade de combinar o melhor do ensino presencial com o ensino a distância, também chamado de blended learning –, a ferramenta, com uma interface amigável, permite, por exemplo, que os professores publiquem e deixem a salvo um “plano de aula”, bem como enviem textos e exercícios diretamente para os alunos. Mas as possibilidades do sistema são amplas e não param por aí. Com a ferramenta, um professor ou a coordenação de um curso pode criar disciplinas,
receber matrículas, disponibilizar material didático, apostilas, textos e material multimídia – por meio de vídeos, fotos e áudio –, aplicar testes, controlar e publicar a frequência dos alunos e os resultados de exames, e, ainda, se comunicar com todos os alunos por meio de mensagens, e-mails e redes sociais.
Segundo a docente e empreendedora, outra característica importante que está sendo implementada é o learning analytics, que permite analisar o desempenho e o percurso dos alunos, permitindo estabelecer um padrão de aprendizado para cada um deles. Para desenvolver esse módulo, que envolve recursos como algoritmos de alta escalabilidade, computação de alto desempenho e outros, a Web Road faz parte, desde fevereiro, da Incubadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) – unidade de
pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) –, sediado na cidade. Com o apoio da instituição, a empresa espera desenvolver novas ferramentas para auxiliar o aprendizado dos alunos.”
FONTE: www.faperj.br

domingo, 18 de maio de 2014

ANALISE DO CONTO: O PRIMEIRO BEIJO - CLARICE LISPECTOR

Clarice Lispector

Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, mas seus pais vieram para o Brasil logo depois do seu nascimento. Clarice chegou a Maceió com apenas dois meses de vida, com seus pais e mais duas irmãs. Em 1924 mudou-se com sua família para Recife. Aos oito anos, ela perdeu sua mãe e três anos depois, se mudou com seu pai e suas irmãs para o Rio de Janeiro.
No ano de 1939 Clarice entrou para faculdade de direito. Trabalhou como redatora para a Agência Nacional e como jornalista no jornal "A Noite". Casou-se em 1943 com o diplomata Maury Gurgel Valente, com quem viveu muitos anos fora do Brasil. Eles tiveram dois filhos, Pedro e Paulo.
Seu primeiro romance foi publicado em 1944, "Perto do Coração Selvagem". No ano seguinte a escritora ganhou o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras. Dois anos depois publicou "O Lustre".
Em 1954 saiu a primeira edição francesa de "Perto do Coração Selvagem. Em 1956, Clarice escreveu o romance "A Maçã no Escuro" e começou a colaborar com a Revista Senhor, publicando contos.
Separada de seu marido, voltou a morar no Rio de Janeiro. Em 1960 publicou seu primeiro livro de contos, "Laços de Família", seguido de "A Legião Estrangeira" e de "A Paixão Segundo G. H.", considerado um marco na literatura brasileira.
Sua carreira literária prosseguiu com os contos infantis de "A Mulher que matou os Peixes", "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" e "Felicidade Clandestina".
Nos anos 1970 Clarice Lispector ainda publicou "Água Viva", "A Imitação da Rosa", "Via Crucis do Corpo" e "Onde Estivestes de Noite?". Reconhecida pelo público e pela crítica, em 1976 recebeu o prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, pelo conjunto de sua obra.
No ano seguinte publicou "A Hora da Estrela", seu ultimo romance, que foi adpatado para o cinema, em 1985. Clarice Lispector morreu de câncer, na véspera de seu aniversário de 57 anos.
Clarice Lispector influenciou a sua própria geração e as que vieram. A sua atualidade é comprovada pelas contínuas reedições de seus livros e as muitas adaptações de seus textos para o cinema, teatro e outros meios expressivos.



O PRIMEIRO BEIJO (Clarice Lispector)
Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:
- Sim, já beijei antes uma mulher.
- Quem era ela? perguntou com dor.
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.
O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.
De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.
Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.
Ele a havia beijado.
Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.
Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.
Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...
Ele se tornara homem.

Análise:

O enredo da história trata-se de um casal que está prestes a dar seu primeiro beijo. A menina nunca tinha beijado antes e quer saber se seu parceiro já tinha. Ele afirma que sim, já beijou uma mulher. Então o menino volta ao tempo e se lembra de sua primeira experiência. O adolescente constata que ‘’se tornou homem’’, descobrindo que o amor transforma um menino em um homem de verdade.
A tipologia do texto é narrativa, seu gênero é o conto. O narrador é heterodiegético, ou seja, narra sem participar da história. Utiliza da linguagem formal e sua função é poética.


sábado, 17 de maio de 2014


ANÁLISE DO CONTO: A CARTOMANTE

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis, foi um cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, e nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839. Foi filho de operario mestiço e portugues chamado de Francisco José de Assis e de Dona Maria Leopoldina Machado de Assis, que logo falesceu deixando seu filho sobre os cuidados de sua madrasta, Maria Inês. Ela se dedicou a Machado o matriculando numa escola pública, a única que esse autodidata frequentou.
Machado de Assis tinha uma saúde muito frágil e era gago e epilético.
Pode-se dividir as obras de Machado de Assis em duas partes, a primeira é a fase romantica, onde seus personagens possuem caracteristicas amorosas sendo o amor e relacionamentos romanticos os principais temas de seus livros. Podem-se destacar os livros: Ressurreição, que foi seu primeiro livro e A Mão e a Luva.
A segunda fase é a fase realista. Machado de Assis começa a mostrar questões psicologicas de seus personagens. É a fase em que o autor consegue retratar o realismo com êxito na literatura. Ele destaca no ser humano seus defeitos e qualidades. Destacam-se as obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro.
Machado de Assis influênciou demasiadamente a literatura brasileira. Foi considerado um dos maiores escritores brasileiros e até hoje, isso permanece. Ele também influenciou alguns autores como Olavo Bilac e Lima Barreto que mostra a influência de Assis marcante em Triste Fim de Policarpo Quaresma. Rubem Fonseca também sofreu influência de Machado quando escreveu os contos “Chegou o Outono”, “Noturno de Bordo” e “Mistura” que foram baseados na linguagem do mesmo.
Machado de Assis foi uma grande influência em sua época, na literatura brasileira principalmente, suas obras abordavam questões sociais e até hoje influencia muitos escritores brasileiros e estrangeiros.







A CARTOMANTE (Machado de Assis)

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
Onde é a casa?
Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
É o senhor? Exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéa, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.


Análise:
O enredo da história trata de um casal que tem, ou iniciaria um romance proibido, já que ela, Rita, era casada com Vilela, melhor amigo de Camilo. Para saber se seu amor era de fato correspondido, Rita consulta uma cartomante que confirma ela como amada, porem, a linda história de amor é encerrada, pois, Vilela descobre o romance através de cartas anônimas e mata á tiros, Rita e Camilo. A tipologia do texto é narração e seu gênero é o conto. O tempo histórico desse conto está no século XIX e recorre a analepse durante seu tempo de discurso. Dentre seus personagens, os protagonistas são Rita, Camilo, Vilela e a cartomante e o secundário é o cocheiro. Os protagonistas são personagens redondos e o secundário é um personagem – tipo. Em, A cartomante, o narrador é heterodiegético, pois, está fora da história. Usa linguagem formal e de função emotiva.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

LDB

A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) fundamenta a Educação na Lei maior Brasileira: A Constituição da República Federativa do Brasil (1988), no seu Título VIII (Da Ordem Social) e no Capítulo III (Da Educação, da cultura e do Desporto); abrangendo os artigos 205 ao 217.

A Lei de Diretrizes e Bases de nº 9.394 (1996), depois de muita tramitação no congresso nacional, foi aprovada em 23 de dezembro de 1996. Essa Lei possui nove Títulos:

I. Da Educação
II. Dos Princípios da Educação Nacional
III. Do Direito a Educação e do Dever de Educar
IV. Da Organização da Educação Nacional
V. Dos Níveis e das Modalidades de educação e Ensino
VI. Dos Profissionais da Educação
VII. Dos Recursos Financeiros
VIII. Das Disposições Gerais
IX. Das Disposições Transitórias

Apenas o Título V é dividido em Capítulos:

I. Da Composição dos Níveis Escolares
II. Da Educação Básica
III. Da Educação Profissional
IV. Da Educação Superior
V. Da Educação Especial


A LDB define e regulariza o sistema de educação no Brasil com base na Constituição Magna. Ela regulamenta todo sistema educacional, isto é, vai do ensino privado até o público, da educação básica até o ensino superior.

  • A Lei normatiza o direito à educação garantida pela Constituição é dever do Estado diante a educação pública.
  • Segundo a LDB todo professor tem que ter ensino superior
  • LDB também é conhecida como a Lei Darcy Ribeiro
  • Darcy Ribeiro nasceu em Minas Gerais, em 1922. Foi criador do Museu do Índio e um dos principais formuladores da LDB

De acordo com o Título III o ensino fundamental é gratuito e obrigatório, até para indivíduos que já passaram da idade apropriada. Creches também são gratuitas e não obrigatoriedade, atendendo crianças de zero à seis anos de idade.

No ensino fundamental houve mudanças quanto aos anos de duração. “Duas Leis oficializaram e tornaram obrigatório o ensino fundamental de noves anos: a Lei n. 11.114, de maio de 2005, tornou obrigatória a matricula de crianças de 6 anos no ensino fundamental de nove anos [...]” (PILETTI, 2012. p. 230)

A LDB, nada mais é do que uma norma a ser seguida por todo sistema educacional, logo, ela influencia em todas atividades do planejamento global escolar. Pois tudo que se faz na escola, é segundo a LDB.
Pode-se entender que desde que a Lei aprovada, ela passou por algumas mudanças por meio de resoluções, portarias e decretos. Ela pode ser revista para melhorias do sistema educacional brasileiro com o passar do tempo e com as mudanças da sociedade.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A Literatura na Escola

     "O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria"
(Mário Quintana)

        Através da literatura o aluno pode conhecer diferentes mundos de diferentes épocas, ampliar seu vocabulário, sua capacidade de argumentar, de indagar e de criar sua própria maneira de ver e interpretar as coisas a sua volta.
      Uma criança que lê tem uma melhor desenvoltura da sua fala, escrita e senso crítico.
      Atualmente nas escolas, é imposta a leitura de clássicos da literatura brasileira, clássicos esses, que muitas vezes não condizem com a idade e maturidade de quem lê.

      Para criar o hábito da leitura em uma criança, é preciso que ela se identifique com o que está lendo e tenha uma fácil compreensão do que está sendo exposto por um autor, conseguindo aplicar seus conhecimentos adquiridos no seu dia a dia.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

REFLEXÃO E FILOSOFIA

SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1985.

      Quando se há um problema é necessário refletir sobre. Não existe questionamento sem reflexão, sem a busca do fundamento. E eis que ai está a filosofia. Reflexão significa ‘’voltar atrás’’. O que neste caso não é necessariamente voltar ao passado. É o ato de repensar, revisar, analisar, ir a fundo. E a partir daí que é possível questionar, ou, concordar.
      Imagina-se um questionamento sobre todos os ditados populares que se usa, e muitas das vezes não há uma compreensão de imediato? Todas as crenças, como por exemplo ‘’Não deixe o chinelo virado’’(superstição) ou ‘’Não corte o cabelo em lua cheia!’’ que muitas vezes pessoas seguem, sem saber o fundamento. O ato de questionar-se, refletir, dos problemas mais complexos aos casos mais simples, este é o filosofar.
      A palavra “reflexão” vem do latim, e significa “voltar atrás”, ou seja, um segundo pensamento. Toda reflexão é um pensamento, mas nem todo pensamento é uma reflexão. A reflexão é um pensamento capaz de analisar, pode-se também embasar opiniões, interrogar etc. Refletir é retomar, reconsiderar, é analisar com cuidado, prestar atenção e isto é filosofar.
      A filosofia é uma reflexão sobre os problemas da realidade, mas ela não é qualquer tipo de reflexão. Para que uma reflexão seja chamada de filosófica, ela tem de obedecer três requisitos: precisa-se ser radical, rigorosa e de conjunto.
      A reflexão radical ocorre quando uma questão ou problema é analisado com profundidade, de acordo com suas raízes.
Um exemplo que podemos citar dos dias atuais, é em relação às manifestações. O governo tenta calar a boca do povo, mas não procura fazer uma análise mais profunda do fundamento e das causas de suas reivindicações. Dessa forma, o problema é “abafado”, mas não tem uma resolução definitiva.
      A reflexão filosófica rigorosa, nada mais é do que uma apuração certeira, tendo grande vigor e profundidade, tendo suas raízes, bases e fundamentos precisamente, na realidade.
Deve-se mostrar com grande rigor, com cautela e boa averiguação, sempre com base na ciência e também na sabedoria popular, a conhecida “voz do povo”, nos campos do problema em questão.
      Um depende do outro, sempre terão que estar andando juntos, para um melhor aproveitamento da causa. Havendo métodos sem erro, para garantir uma resposta solucionada à sociedade.
Exemplos nos dias atuais:
O Jure Popular.
      Nessa modalidade de julgamento, que pessoas são escolhidas para ajudar na absorção ou condenação do réu e, também representar a sabedoria popular com provas reais e válidas. Mesmo tendo os argumentos dos advogados e provas jurídicas precisas, é indispensável á opinião pública. Nesse fato é que ocorre a reflexão rigorosa, pois ela possui base na ciência e na população. O último requisito a ser feito, para que uma reflexão possa se tornar filosófica, é a de conjunto.
      O problema(o que a realidade apresenta, uma “questão para ser solucionada”) a ser analisado, deve ser observado de modo global (“que se considera como um todo”).
      Relacionando-se assim, com outros aspectos além do seu próprio. O campo de ação é o problema mesmo não sabendo onde ele está.
      A filosofia se difere da ciência nesse aspecto, ela não foca em um único objeto, mas procura um objeto problemático. A ciência não consegue refletir ou buscar um problema, ela apenas o analisa e pode até solucioná-lo.
      A filosofia sempre está procurando uma verdade, buscando um problema e resolvendo o mesmo. Observando-o não de modo parcial, por mais que as vezes o analisem em cima de apenas um ponto de vista.
      A filosofia analisa seu objeto de estudo em seu próprio meio e fora dele, entra em um contexto e examina a função do conjunto.
      Para concluir, pode-se acrescentar o seguinte pensamento: “mas o que é filosofar hoje em dia – quero dizer, a atividade filosófica – senão o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? Se não consiste em tentar saber de que maneira e até onde seria possível pensar diferentemente em vez de legitimar a que já se sabe?” (Michel Foucault/ 1926-1984). Ou seja, é necessário sim, questionar, e ir mais a fundo, questionar, e ir atrás da sua verdade, ir atrás do que se é certo.